domingo, 14 de abril de 2013

Desfilava num salto preto e com um vestido nada longo, gostava de enamorar-se no espelho e dizia com frequência a si mesma que aquele pequeno espaço era pouco para seu brilho. Apesar de ser tão submersa em sua mente complexa, tinha um altruísmo digno de salvadores universais. Via a sua volta muitos Narcisos que insistiam em se perder no seu relicário amaldiçoado chamado ego. Centralizava de forma absoluta seus objetivos, pensava no mesmo espaço de tempo em um aglomerado de dimensões diferentes. Acreditava em suas próprias criações fantasmagóricas e se considerava forte o suficiente para qualquer imprevisto. Não temia a morte, mas se desfazia e renascia aos sussurros de uma voz que acalentava até o mais inquieto dos corações rebeldes. Pedia aos céus para morrer, mas morrer de amores. Olhava seus próprios olhos vermelhos de insônia e se via nas carícias de um ser que a fizesse sonhar acordada. Havia encontrado algo que não era dessa dimensão. Via a sua projeção em um outro alguém que tirava seus sorrisos como notas das mais serenas melodias. Se dividia e refazia a mistura dos dois, só para ver que ser problemático seria criado dessa explosão sensorial em seus devaneios rotineiros. Corria adrenalina nas veias quando se olhavam e quando se beijavam o sangue retrocedia. Sabia da essência da vida, era algo que fazia com que se reinventasse a cada dia, voltava a ser menina e diluía todos os dilemas da vida.